Aplicação Pratica do Vedanta

Existe alguma prática no Vedanta que eu possa realizar? O esclarecimento é mesmo facilitado em satsang? A presença de uma pessoa realizada pode facilitar a descoberta?

 

Nagar - Sim Francisco, a compreensão e' muito facilitada em Satsang na presença de alguém que seja auto-realizado e que seja bem familiarizado com um veículo ou uma ciência de autoconhecimento válida e testada através dos milênios; Vedanta. De fato, as escrituras dizem que o Vedanta precisa ser ensinado! O estudo das escrituras quase que invariavelmente não produz o efeito desejado se o estudante não for preparado (qualificado) ou se ele tentar estudar sozinho. Por quê? Porque sozinhos, nos tendemos a interpretar as escrituras segundo nosso filtro mental, condicionamento espiritual... também chamado de programa ou ignorância pessoal.

 

Em outras palavras, quando interpretamos os textos, nós o distorcemos segundo os investimentos que temos em nossos conceitos, opiniões e crenças, que são os tijolos que compõem o nosso senso de identidade. O ego excluirá todos os conceitos que não estejam em harmonia com a sua opinião e adotará somente aqueles que reforçarão as noções já existentes. A Ignorância é persistente e profundamente enraizada! Portanto a companhia de alguém que conheça as escrituras e seja realizado e' quase sempre indispensável.

 

Francisco - Sim, mas de que modo eu posso praticar o Vedanta?

 

Nagar - A prática do Vedanta nada mais é do que a aplicação do Conhecimento das escrituras, que acontece em três etapas: o Escutar, o Contemplar/Refletir, e o Assimilar. Esse é o processo do Vedanta... É uma prática de contemplação/meditação através da análise (anteriormente não examinada) de nossa própria experiência do dia-dia. O primeiro passo é escutar atentamente e com uma mente aberta e com uma atitude de um “iniciante”, deixando de lado todos os conceitos espirituais que ate o momento não resolveram o seu dilema existencial.

 

O segundo passo é o de refletir os ensinamentos no desenrolar dos afazeres do seu dia a dia. Veja bem; a meditação no Vedanta é o "constante refletir”, analisar, contemplar a sua vida - seus pensamentos, atitudes, emoções, ações, reações... sempre sob a ótica dos ensinamentos. Para que essa contemplação constante possa ocorrer,  a mente do individuo deve estar relativamente purificada; livre do excesso de agitação, estresso, extrovertimento - como também livre da apatia, preguiça e depressão. Karma Yoga é fundamental nesse processo de preparação da mente!

 

E o simples estudo auto-didatico do Vedanta raramente produz o resultado desejado; a realização do Ser Universal. Vedanta não é como um estudo acadêmico/filosófico que requer somente esforço intelectual in referencia ao material em estudo a ser compreendido e memorizado, não! O mundo Vedantino é cheio de ilustres intelectuais que sabem tudo sobre os Upanishads, mas ainda assim o conhecimento teórico-intelectual não frutifica como Iluminação/Auto Realização. O Vedanta deve ser constantemente aplicado, no dia a dia, até que essa contemplação se torne um obsessão e essa obsessão culmine no ha-ha, ou click, no qual você apreende a sua verdadeira natureza com Consciência Pura não-dualista, Ilimitada, Infinita, Eterna. 

 

A lógica do Vedanta, quando contemplada eficientemente com a ajuda de um professor qualificado tem o poder de neutralizar ou cancelar todas as noções errôneas que temos sobre quem ou aquilo que somos. Todas as outras práticas dualísticas (rituais devocionais, mantras, pujas, bhajans, meditação experiêncial...) são baseadas em “causa e efeito”, uma ação para produzir um resultado, alguma coisa que você ainda não possui. Elas servem somente para preparar/purificar a mente para a contemplação-assimilação dos ensinamentos, que são muito simples, mas ainda assim muito sutis. A assimilação do Vedanta (quando não somente teórica/intelectual) invariavelmente produz  a compreensão de sua natureza não-dualística; Consciência pura, perfeita, ilimitada e completa. Você já é isso, o Ser Universal unico, a Consciência Pura e Ilimitada, mas você se imagina como um individuo aparentemente separado, limitado, insuficiente e inadequado.

 

A aplicação prática do Vedanta simplesmente anula/dissolve a sua ignorância, na medida em que a sua compreensão se torna mais clara e firme, até que um dia “a ficha cai” e você tem o Conhecimento direto (não apenas mental/intelectual) de que você e' a Consciência Única Universal. Uma vez que você saiba existêncialmente quem você é, você não esquecerá jamais e não será mais enganado por sua mente... Isso se chama Conhecimento direto do Ser, e da realidade não-dualística de toda Existência.

 

Enquanto o conhecimento dualístico e' sempre em relação a um objeto e  sujeito a enganos... o Conhecimento do ser Universal e' não-dualístico... É o conhecer o Conhecedor  de todos os objetos de experiência (a Luz da Consciência), e não é sujeito a nenhuma margem de engano porque a nossa Consciência/Existência e' o único fator em Maya que não pode ser questionado ou negado, e' auto-evidente, auto-existente, auto-consciente. Você não pode negar a sua existência consciente, do mesmo modo que você não pode afirmar verbalmente de ser mudo, porque o simples ato de tal afirmação implica a existência de sua linguá e sua habilidade de falar.  Arlindo Moraes